Letra da Música Romance do Injustiçado de Patrocínio Vaz Ávila

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Música em MP3
Como talhado em pau-ferro
O carão de traços duros
O bigodão mal cuidado
Desabando sobre os lábios
Par de asas mui cansadas
De um avejão de cor negra
Melena de muitos meses
Sobrando por sobre a gola
E o colorado de um lenço
Sangrando em riba do peito

A bombacha de dois panos
Remangada sobre a bota
Os cravos da espora grande
Mordendo a franja do pala
Bem atirado pra trás
No fivelão da guaiaca
Luzindo em campo de prata
O louro das iniciais

Sobrando da faixa negra
Que lhe abarcava a cintura
O cabo entalhado em chifre
Da xerenga de dois palmos
Um relho, trança de oito
Vinha arrastando a açoiteira
Dependurado no pulso
Pelo tento do fiel

Pela rédea, o azulego
Se via que flor de flete
Malgrado a estampa judiada
De pingo que muito andou
Foi assim que há muitos anos
Bateu nas casas da estância
O celebrado bandido
Chamado "estácio arijo"

Bandido
Para a justiça
Por seu respeito se explique
Que as razões de um índio macho
Nem sempre são bem aceitas
Pelos códigos e leis

Bandido
Por ter sangrado
Igual de raiva e de armas
A um cujo que desonrara
A mais moça das irmãs

Bandido
Porque apertado
Entre as brigadas e a enchente
Já não podendo escapar
Por debaixo da fumaça
Matou um dos quatro praças
Que lo quiseram carnear

Bandido
Porque seguido
Por milicadas sequiosas
De uma vingança total
Fugiu da estrada real
Para o mais fundo dos matos
Carneando chibos alheios
Para o churrasco sem sal

Bandido
Porque enleado
Na rudez da ignorância
Fez da fuga e da distância
Seu modo de mal viver
Porque quis a sina ingrata
Que nunca tivesse plata
Para pagar um bacharel

Bandido
Porque não teve
A exemplo de tanta gente
Cancha livre, costas quentes
À sombra de um coronel

E assim viveu como bicho
Pelos fundões das fazendas
A carregar a legenda
De perigoso e assassino
Ximbo, bagual, teatino
Com fama de touro alçado
Tragando o duro guisado
Que lhe picava o destino

N'algum bolicho de estrada
Boleava a perna cestroso
Pelos domingos de tarde
Para um cantil de cachaça
Meio quilo de bolacha
Mais um punhado de sal

Olhava de olhos compridos
Para o mais das prateleiras
Pra um bom fumo amarelinho
Pros maços de palha buena
Para a erva de palmeira
Num saco sobre o balcão
Mas vinha curto seu cobre
Mal e mal traz precisão
O bolicheiro era pobre
E ele não era ladrão

E a polícia no seu rastro
Malgrado o tempo passado
Perseguido e acuado
Por plainos e socavões
Sempre mudando de pouso
Pra confundir os milicos
Que em manhas sim, era rico
Por evidentes razões

Cansou-se um dia, afinal
Daquela vida de bicho
Daquele estranho cambicho
Com as más volteadas da sorte
De não ter rumo nem norte
Não ter descanso ou sossego

E assim bateu cá na estância
Naquele entono de taita
Que manda parar a gaita
Por ter cansado do baile
E ao patrão, velho boerana
Pediu estácio arijo
Que mandasse algum chirú
Levar ao povo um recado
Que viesse o delegado
Que ele afinal resolvera
Ele, o bandido; ele, o maula
Trocar o largo dos campos
Pelo encolhido das jaulas

Nas suas noites de insônia
Entre um pelego e as estrelas
Conseguira convencer-se
Que, sendo justa, a justiça
Lhe entenderia as razões
E lhe daria, a lo muito
Poucos anos de condena
Ou mesmo absolvição

Foi então, que a meia tarde
Num fordecão atochado
Deu na estância o delegado
Com quatro praças por quebra
Para formar o sarilho

Quatro fuzis embalados
Quatro dedos no gatilho

Então... estácio arijo
Tomou seu último mate
No mesmo entono de guapo
Que era seu jeito de sempre
Arrastou a espora grande
Na direção dos milicos

nem mais um passo!
Gritou-lhe num gritinho de falsete
O delegado, um joguete
Nas mãos do chefe local
levante as mãos!
largue as armas!
esteje preso, seu bandido
Seu metedor de pendenga!

E o arijo, decidido
A entregar-se sem briga
Levou a mão à barriga
Para descartar a xerenga

cuidado! berrou um praça
Tremeram cinco covardes
E na calma desta tarde
Berraram quatro fuzis
Quatro sóis de fumo e sangue
Se lhe acenderam no peito

Foi desabando aos pouquitos
De frente para os milicos
No jeito de um velho angico
Caído junto às macegas
Que lhe invejavam o entono

E já quase adormecendo
Para o derradeiro sono
Quatro vezes mal ferido
Teve ainda tino e ouvido
Para escutar um dos cinco
Que lhe gritava
bandido!

Caiu
Olhando pro céu
Tinto de sangue e de luz
Dava-lhe o sol pela frente
Como a incendiar-lhe a figura
A mais rica das molduras
Para enquadrar um valente!

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Ficha Técnica da Música Romance do Injustiçado

Número de Palavras597
Número de Letras4500
IntérpretePatrocínio Vaz Ávila

Na tabela acima você vai encontrar dados técnicos sobre a letra da música Romance do Injustiçado de Patrocínio Vaz Ávila.

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